Escola no tempo certo (que é já Hoje!)

Escola no tempo certo (que é já Hoje!)

Por: Dr. Fernando Elias – Conselho Nacional de Educação  

 

 

 

Como sabemos, a Escola, ontem, tinha a missão de desenvolver saberes para um mundo conhecido. Hoje, tem por missão construir autonomia para o futuro, para um mundo desconhecido. Assim, a Escola no tempo certo (que é já Hoje!) deve promover intencionalmente o desenvolvimento global dos seus alunos.

 

A sociedade de hoje em constante mudança exige não só conhecimento, mas também habilidades e competências para além do conhecimento. A necessidade de adaptação é rápida e constante.

 

O foco da Escola passou a ser a renovação das competências do aluno para a vida, como um todo, assente em 4 pilares fundamentais: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser, aprender a conviver.

 

Assim, a Escola deve desenvolver duas dimensões: uma, de natureza ecológica, ambiental e climática; outra, de natureza educacional, que promova uma visão participativa dos alunos e os prepare para obterem 4 competências-chave, na linha de pensamento de Harari (2018): Comunicação, Colaboração, Pensamento Crítico e Criatividade.

 

Numa perspetiva mais ampla, segundo o mesmo autor, as escolas devem dar menos atenção às aptidões técnicas e colocar ênfase nas aptidões de vida polivalente. Acima de tudo estará a capacidade para lidar com a mudança, de aprender coisas novas e de preservar o equilíbrio mental em situações novas.

 

Para isso, temos de apostar em modelos pedagógicos alinhados com a educação de competências para a vida, com forte participação e envolvimento efetivo dos alunos na construção do seu processo de aprendizagem. É necessário garantir a integração de tecnologia na sala de aula e na aprendizagem dos alunos, para potenciar as 4 competências-chave acima referidas. O papel do professor será insubstituível, mas não podemos deixar de considerar a relevância dos desafios e das oportunidades para potenciar a aprendizagem dos alunos e a ação dos docentes que as tecnologias suscitam, incluindo de relacionamento com as novas ferramentas de IA que farão parte do seu futuro.

 

Importa também ter em conta que o desenvolvimento das aprendizagens deve ser cada vez mais reorientado para processos pedagógicos que envolvam o Saber Fazer e Saber Ser. Passar do conhecimento para a ação, promovendo atividades que convidem os alunos a demonstrar os conhecimentos e competências, a expressar as suas potencialidades, a despertar o seu talento, a estimular a sua sensibilidade e curiosidade. Para isso, as escolas devem apostar cada vez mais em Projetos, Clubes, Oficinas e Academias.

 

Mas, se queremos que Escola hoje seja Integradora, Inovadora, Inclusiva, Transformadora, é preciso saber valorizar a importância do trabalho colaborativo e em rede, por ser gerador de mudança, inovação e melhores práticas. Assim, é fundamental criar nas escolas tempos e espaços que permitam o encontro sistemático entre docentes, o trabalho colaborativo e o desenvolvimento profissional conjunto.

 

A organização pedagógica (planeamento, gestão e desenvolvimento curricular) enquanto missão dos Diretores, dos Coordenadores dos Departamentos, dos Delegados de Grupos Disciplinares/Ano e das Equipas Educativas, deve investir na conjugação plural de responsabilidades de diversa natureza, funções e lideranças de diferentes planos.

 

É também imperioso colocar as aprendizagens no centro da vida escolar. Assim, é preciso, entre outras configurações possíveis:

a) Reorganizar os tempos escolares, os espaços e os recursos educativos, para a diversidade e não para a norma.

 

 b) “Salas de aulas sem paredes”, ou seja, potenciar e valorizar os espaços interiores e exteriores das escolas; operacionalizar a articulação curricular horizontal e vertical através de “momentos DAC” (Domínios de Autonomia Curricular); promover saídas de campo; trabalhar o currículo articulado com os projetos estruturantes da escola com e na comunidade; trabalhar o currículo articulado com a Biblioteca Escolar;

 

c) Uma “escola sem muros”, ou seja, criar e manter redes de colaboração com o contexto envolvente, promovendo sinergias que potenciem a qualidade da Educação, a formação integral dos alunos, a melhoria das suas qualificações e ainda, o desenvolvimento nos territórios, em áreas como: saúde, desporto, artes, cultura, universidades (cariz científico), empresas e famílias];

 

d) Apostar na avaliação por competências em vez da avaliação de conhecimentos descartáveis, compilando evidências de desempenho e conhecimentos dos alunos em relação a competências à luz do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória.

 

e)Uma “sala de aula de porta aberta”, ou seja, apostar em práticas de intervisão pedagógica, em contexto de sala de aula, enquanto processo de reflexão e de desenvolvimento profissional e estratégia de identificação e partilha de boas práticas, de métodos de trabalho inovadores e de melhoria das práticas pedagógicas.

Fernando Elias

 

Referências bibliográficas

Harari, Y. (2018). 21 Lições para o Século XXI (1ª ed.). Editor: Companhia das Letras.